O difícil caminho da opção religiosa

Uma decisão difícil, que requer, acima de tudo, coragem. Muitos homens e mulheres, ainda na juventude, deixam família e amigos para se dedicar de corpo e, principalmente de alma, à vida religiosa. Quem opta por essa entrega radical à fé, na Igreja Católica, tem que estar preparado psicologicamente para enfrentar o caminho árduo dos conventos, mosteiros e seminários. A disciplina é rígida, porém essencial, para que o indivíduo evite os desejos carnais, ditos como ´pecaminosos` e assim alcance a santidade. Psicólogos alertam para a manutenção do equilíbrio entre fé e razão. E agora, o apoio psicológico na formação de padres e freiras ganhou um maior peso.


O reitor do Seminário de Olinda, padre João Bosco, ressalta a base familiar . Foto: Edvaldo Rodrigues/DP/D.A Press
Os tempos mudaram. Hoje as informações chegam cada vez mais cedo, os tabus não são tão grandes como em décadas anteriores. Por isso, a Igreja, imutável em muitos aspectos, está revendo a maneira de formar os seus religiosos. A teologia e a filosofia agora dividem espaço com a psicologia. ´É preciso entender como as meninas que querem ser freiras chegam aqui esaber quais são suas experiências afetivas e familiares, para a partir daí começar a trabalhar a vocação em si`, afirma a Irmã Marcela Sarmento, responsável pelo setor de vocacionadas das Irmãs Damas. A irmã admite que é difícil para as futuras freiras, ainda adolescentes, a adaptação. ´Elas entram acostumadas a uma outra rotina, onde muitas vezes elas que ditam as regras. Mas, aos poucos é possível resolver esse problema.
Oferecemos a elas a formação espiritual e catequética, além da psicológica`, disse.

As mudanças também estão acontecendo na formação dos padres. Responsáveis pelas paróquias e capelas, os sacerdotes também necessitam de um cuidado especial na formação da personalidade. Para o reitor do Seminário de Olinda, padre João Bosco, a maturidade do seminarista tem que vir de um processo de construção que comece em casa. ´É preciso que o jovem seminarista tenha uma família estruturada. Além disso, ele tem que estar inserido na vida de uma paróquia, prestando serviços pastorais. Assim ele vai compreender melhor a dinâmica`, explica.

A média de idade do Seminário de Olinda é hoje de 23 anos. São oitenta e dois rapazes que estudam filosofia, teologia e italiano. Além disso, fazem as orações obrigatórias e participam da missa. No fim de semana, cada um deles presta serviço em uma das 102 paróquias da Arquidiocese de Olinda e Recife. Para aguentar o cotidiano pesado, eles contam com uma equipe de quatro psicólogos. O reitor acredita que o humano e o espiritual têm que andar juntos. ´É preciso equilibrar a razão e a fé do seminarista, para que ele seja um padre consciente de sua vocação. Não pode se agarrar só à fé e esquecer a razão nem vice-e-versa`, argumenta.

A psicóloga Maria Conceição Pereira alerta para o controle excessivo que a religião pode exercer sobre o indivíduo, muitas vezes ainda jovem. ´Tudo que restringe a liberdade é algo nocivo. A decisão de abraçar uma vida religiosa tem que ser tomada somente pela pessoa, não pode atender a desejos ou sonhos dos pais, por exemplo, porque ela não será feliz`, disse. ´Geralmente quem entra na Igreja para ser padre ou freira é muito jovem, ainda está se conhecendo, e esse desejo de liberdade pode eclodir e desencadear problemas psicológicos sérios`, completou. (Kléber Nunes)

Fonte: Diario de Pernambuco

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